Um dia após o outro...

...Foi um dia pra compras. E acordei tarde. 
     ... Assim a refeição da manhã foi do mais sóbrio e a estadia no átrio acometida da sem-vontade de arrostar com as névoas matutinas; porém, hoje mais alvas.
Enquanto meço forças comigo mesma, observo os três homens que mudam com afinco as passadeiras vermelhas das escadas do acesso ao primeiro piso; a nova , de uma cor neutramente beige ,destaca-se agora do tom castanho alaranjado das tábuas e das sancas.
Um átrio é como uma estação de combóio: há um movimento permanente de gente  que chega e que parte. Sinto ainda os olhos meio cerrados pelo exercício de dormir e constato que ainda não me apetece mexer; contudo, lá fora, um sol tamisado de névoas de um cinza claro não desconvidam ao passeio; e como não quis carregar um livro - que diabo! ... pesam... - vou adestrar as pernas até à hora do alomoço, porque, afinal, em qualquer lado, as horas das refeições têm que ser respeitadas na íntegra, ou a nossa natureza de animais de hábitos ficará reduzida à total incapacidade de ir sobrevivendo com a esperada qualidade de vida.
Após o jantar, há hoje concerto de piano - leio, agora, num pequeno cartaz antes de sair para o ar frio, deixando pata trás os operários que finalizam activamente a sua tarefa.
Cruza-se comigo um recém-chegado pequeno e magrinho, de gestos e andar nervosos, que me brinda com um sorridente: bom dia! minha senhora... , a que quase mecanicamente respondo, um pouco admirada pela animada saudação. São estes gestos hábitos de boa convivência que se vão diluindo no tempo e é pena. O "salve-o Deus!" de outrora vai perdendo, na vida quotidiana, paulatinamente, o seu valor de ligação entre as gentes que já teve...
Saio finalmente para me afastar do ruído surdo e incómodo das conversas oriundas do bar e do afã dos operários. Deixo para trás o som melódico de uma canção estrangeira, mas suave, que servia como pano de fundo ao conjunto de ruídos a que me habituara enquanto esperava coragem para fugir ao semi-adormecimento em que a vida do átrio se convertera, entretanto. 
Continua a não se vislumbrar o  pleno sol... Mas já é tempo de sair para a luz do dia!
Penso, por fim, que não sinto o tédio de Pessoa:mas, sinto-lhe o cansaço!

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