Ao sabor da pena...

 O som do vento nos beirais é monótono, insistente, quase enervante. Hoje houve sol e não senti o frio. 

Agradeci a dádiva  de ter podido ambientar a casa para poder ir suportando o rigor das estações. De manso, começo a sentir um cansaço que me vence.

Sei que não adormeço, pois vigio. Sem ansiedade, mas vigio.

Amanhã, dedicarei o dia, com empenho e carinho, aos seres quede mim esperam atenção e a quem sei que faço falta, procurando estar atenta mesmo aos seus mudos pedidos.

Nem todos falam.  Friorentas,as roseiras do jardim pedem atenção.

Também as avezitas pipilaram e não acorri.

Amanhã... amanhã,  esta letargia de inverno passará.

                                           [2013/01/25]

Em 8 de Abril de 2013...

Ouvia a RTP1 e surgiu um artista da minha geração: Fernando Tordo, que em homenagem simples e sincera à memória de Luís Andrade,afirmou que durante o processo do 25 de Abril aquele havia sido injustamente saneado e o cantautor se sentira obrigado a intervir ao assinar uma petição cujo intuito era o de protestar contra um tal desajustado acto. Mais tarde, Luís Andrade procurara-o para lhe agradecer o que, aliás, não era para qualquer agradecimento. Igualmente presente no programa, Simone de Oliveira tudo corroborou.

           Acrescentou ainda o artista que eram de lamentar atitudes do género num país em que os políticos continuam de costas voltadas uns para os outros, cavando mais e mais a desgraçada da colectividade a que pertencem e affirmam servir.

 Pensei exactamente  que, desde o inicio da revolução em curso, fomos assistindo a tantos e tantos destes actos e de me ver perseguida por ter verbalizado  um tal sentir ao revoltar-me contra muitas toupeiras iluminadas. Sofri na alma, na pele e nos haveres, causei sofrimento aos meus mais próximos por haver debitado tão modesta opinião - pelo que dei comigo a considerar Fernando Tordo e Simone a subirem incomensuravelmente na minha  modesta consideração.

         Entretanto, tais episódios serviram para me conservarem apenas viva. Com o tempo, a vontade de lutar contra toupeiras ou galifões foi-se evaporando, ficando apenas a memória da força interior que então tivera... e quase vai levando à loucura gente honrada e de boa fé em face dos inúmeros dislates a que, dia a dia, vamos assistindo.